A causa do autismo ainda é estudada pelos cientistas. Muitos genes que indicam o transtorno já foram identificados – mas ainda não podem ser detectados por exames que façam o diagnóstico. “O que sabemos, atualmente, é que há uma mistura entre influências genéticas e ambientais”, diz o psiquiatra. Infecções pós-parto, tumores, causas endocrinológicas e metabólicas já foram associadas à causa do autismo – mas ainda são especulações.

Recentemente, mais uma hipótese foi levantada pelos cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), Eles exploraram a arquitetura física do córtex humano (camada superficial do cérebro) de 11 crianças com autismo e 11 sem o transtorno, na faixa etária de 2 a 15 anos. Ao examinar essa parte do cérebro, perceberam que as crianças autistas tinham falhas justamente em áreas que são responsáveis por funções comprometidas pelo transtorno – como comunicação e interpretação social.

A desorganização foi notada em 10 dos 11 pacientes com autismo e apenas em 1 dos 11 sem o transtorno. “Pelo número pequeno de cérebros analisados, o estudo é considerado exploratório. Mas, aparentemente, a maioria das falhas foi originada durante a gestação, durante a migração das células que formariam as camadas do córtex”, explica Muotri. Ainda não se sabe qual é a causa dessa falha que acontece no segundo trimestre de gestação, quando a estrutura é formada. Especialistas acreditam que possa ser decorrência do ambiente uterino, do código genético ou uma mistura de ambos os fatores.

Os estudos que tentam descobrir a cura do autismo, dirigidos por Muotri, representam a esperança para as famílias. O biólogo usa uma técnica que transforma células de pessoas adultas em células-tronco embrionárias, ou seja, que ainda não são especializadas. Depois disso, é possível fazê-las se desenvolverem novamente e diferenciá-las em células cerebrais. Como elas tiveram origem em um indivíduo que já estava diagnosticado com um problema, é possível simular no laboratório o funcionamento dos neurônios daquele paciente em comparação com uma pessoa sem o transtorno.

A partir dessas comparações, já se conseguiu identificar uma série de diferenças na estrutura dos neurônios e como essas células respondem em conjunto (o que ajuda a entender como funciona o cérebro desses pacientes). A maior parte das pesquisas está sendo feita com portadores da síndrome de Rett, que também faz parte do espectro autista.


Muotri reforça que o estudo exige cuidado. “Nos próximos dois anos, iniciaremos a fase prática da pesquisa. Começaremos testando o tratamento em adultos que não sejam autistas, para analisar os possíveis efeitos dele”, conta.